filosofia da linguagem
Palavras Chave -psicológica da linguagem, natureza.
introdução
Estuda a essência e natureza dos fenômenos linguísticos, os principais autores foi - Wittgenstein Abordagem psico-sociológica e Abordagem lógico-veritiva. Aristóteles foi o primeiro filósofo a fornecer uma teoria sistemática da proposição. Locke e Mill Filosofia e linguagem no empirismo britânico. Frege foi um dos filósofos mais influentes do século XX.Ementa da disciplina
A disciplina Filosofia da Linguagem visa apresentar alguns problemas filosóficos decorrentes
de investigações acerca da natureza da linguagem. Os principais problemas que norteiam
o desenvolvimento programático é o da unidade de sentido e o da oposição entre as abordagens lógica e psicológica da linguagem.
o desenvolvimento programático é o da unidade de sentido e o da oposição entre as abordagens lógica e psicológica da linguagem.
Filosofia da linguagem é o ramo da filosofia que estuda a essência e natureza dos fenômenos linguísticos. Uma das principais características da filosofia da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros seres que existem compreençao no mundo. Ela trata, de um ponto de vista filosófico, da natureza do significado linguístico, da referencia, do uso da linguagem, do aprendizado da linguagem, da criatividade dos falantes, da da linguagem, da interpretação, da tradução, de aspectos linguísticos do pensamento e da experiencia. Trata também do estudo da sintaxe, da semântica, da pragmática e da referencia.
Abordagens lógica e psicológica da linguagem
Certamente a linguagem tem várias finalidades na vida humana. O fato de podermos articular
sons ou sinais gráficos dotando-os de significação e tornando-os capazes de comunicar conteúdos é algo muito útil e que tem sido utilizado pela humanidade com grande proveito
e para muitas coisas. Somente no século XX, a partir do pensamento tardio de Wittgenstein,
a filosofia parece ter compreendido este caráter multifacetado da linguagem da forma mais
abrangente. Até então, os filósofos tendiam a privilegiar uma ou outra característica e finalidade
da linguagem para fornecer suas teorias semânticas. E dependendo do ponto de vista
adotado quanto à finalidade última da linguagem no conjunto das ações humanas, diferentes
teorias acerca do significado linguístico serão produzidas.
De um modo geral, praticamente todos concordam que a linguagem é um instrumento,
uma ferramenta. Mas é uma ferramenta que serve para várias coisas. Duas dessas ‘utilidades’
da linguagem foram privilegiadas pelos filósofos ao longo dos séculos, de modo que podemos
facilmente identificar duas tendências bem definidas de pensamento quando estudamos as
teorias sobre a linguagem através da história:
* a) Abordagem psico-sociológica; aquela que aborda a linguagem como instrumento de interação
inter-subjetiva, privilegiando, assim, o papel por ela exercido na comunicação humana
ordinária; busca, desta forma, explicar o papel da linguagem enquanto instrumento capaz de
exteriorizar o conteúdos da vida psíquica dos sujeitos e, assim, entre outras coisas, proporcionar
aos homens a possibilidade da constituição do pacto social, dos acordos que supostamente
fundamentam a vida em sociedade, uma vez que esses acordos somente podem ser estabelecidos
por meio de uma linguagem. *b) Abordagem lógico-veritiva da linguagem é aquela que detém seu foco de atenção na
caracterização da linguagem como instrumento da ciência; assim, seu problema principal consiste
em averiguar a capacidade que tem a linguagem de enunciar verdades sobre o mundo.
Este ponto de vista tende a priorizar a investigação acerca do conceito de proposição, e sempre
estará submetida a teorias formais da verdade.
Esta dupla possibilidade de abordagem da linguagem com relação ao papel que exerce no
conjunto das atividades humanas tem consequências importantes, pois levará a dois modelos
distintos de teorias semânticas.
Como foi mencionado, a comunicação linguística se dá por meio da expressão de sentidos, de
unidades complexas de significados que se constituem a partir da significação de suas partes.
O sentido proposicional
O conceito de proposição
Entre os inúmeros sentidos que podemos exprimir por meio da linguagem, uma classe deles
tem uma característica peculiar que os tornam, por assim dizer, especiais. Alguns sentidos têm
a capacidade de serem verdadeiros ou falsos, podem acomodar valores de verdade. As proposições são os sentidos expressos
pelas orações declarativas, pelas afirmações e negações. Somente elas podem, em sentido
estrito, ser verdadeiras ou falsas. A proposição é a única portadora legítima da verdade e da
falsidade. Quaisquer outras coisas que dissermos ser verdadeiras ou falsas que não sejam proposições,
somente o serão num sentido impróprio e impreciso da palavra. Idéias, argumentos, sonhos, objetos nunca são verdadeiros ou falsos, somente as proposições. Em suma: sentidos
proposicionais são aqueles que podem ser ditos verdadeiros ou falsos.
Lógica x gramática
Alguns filósofos , ao longo da história, atentaram para o fato de que a verdadeira lógica
capaz de exprimir a correta legalidade da razão não pode estar, por assim dizer, contaminada
por elementos de ordem gramaticais, tomados impropriamente emprestados da estrutura da
linguagem natural. Ou seja, as estruturas lógico-formais do pensamento não seriam, de acordo
com este ponto de vista, as mesmas estruturas sintáticas pertencentes à linguagem.
Exemplos típicos de mesmo conteúdo expressos de maneiras diferentes são os que
envolvem proposições com quantificadores lógicos. O enunciado “Todo homem é mortal” diz
exatamente a mesma coisa que “não existem homens que não sejam mortais”, “nenhum homem
não é mortal”, “para todo x, se x é homem então x é mortal”. São todas maneiras diferentes de
se expressar o mesmo sentido, o mesmo conteúdo.
O que foi dito acima é fundamental para se compreender de forma correta o que é uma
proposição: ela não é uma entidade linguística, mas uma entidade lógica; ela não é a oração declarativa,
mas o sentido expresso pela oração declarativa. Quando dizemos que uma proposição é
verdadeira não estamos atribuindo verdade à oração que enuncia o sentido, mas ao próprio
sentido que é enunciado pela oração. Ou seja, nos exemplos acima temos orações distintas
expressando uma única proposição. A linguagem natural e suas indeterminadas possibilidades
estilísticas têm a peculiar característica de permitir que o mesmo seja dito de maneiras diferentes.
Portanto, mesmas proposições podem, na linguagem natural, serem enunciadas de formas
diferentes. Do ponto de vista gramatical, diferentes estruturas sintáticas podem ter o mesmo
conteúdo semântico.
Sintaxe e semântica
Quando falamos de qualquer linguagem ou estruturas simbólicas temos que diferenciar
dois níveis elementares: a sintaxe e a semântica. De modo bem resumido, podemos dizer que
a sintaxe está relacionada à forma e a semântica ao conteúdo. Comparando as duas orações, exemplo (“João ama Maria” e “Maria é amada por João”), podemos
então dizer que ambas, do ponto de vista gramatical, possuem diferentes estruturas sintáticas,
mas o mesmo conteúdo semântico; ou seja, de forma diferente elas dizem o mesmo.
A estrutura formal da proposição - Aristóteles
O primeiro filósofo a fornecer uma teoria sistemática da proposição foi Aristóteles . Para
ele, e para mais de 2000 anos de história da filosofia, a proposição possui a forma “S é P”, e seus
principais componentes são o termo sujeito e o termo predicado. Desta forma, a proposição é
concebida como um conteúdo objetivo que afirma ou nega de algo de algo. Se digo, por exemplo,
“a casa é branca” estou a afirmando a brancura da casa; se digo que “cão não é manso” estou negando a mansidão do cão. Uma característica importante desta teoria da proposição é o fato
dela ser análoga à estrutura gramatical, que também se estabelece sob a forma sujeito/predicado.A filosofia aristotélica deixou, ademais, um muito eficaz esquema de classificação e ordenação do mundo, baseado nas categorias de gêneros e espécie . Este esquema é tão poderoso que
até hoje muitas ciências ainda o utilizam para catalogar suas descobertas. A classificação por
gêneros e espécies obedece a estrutura que divide o mundo em classes e subclasses. Assim, por
exemplo, animal é um gênero do qual homem, cavalo e lagartixa são espécies; ou, primata é um
gênero do qual homem, chimpanzés e babuínos são espécies. De maneira formal, pode-se dizer
que o gênero é uma classe que inclui várias outras subclasses dentre dela e a espécie é uma dessas
subclasses contidas dentro do gênero. De modo geral, o esquema gênero/espécie é muito útil
para um tipo conhecimento do mundo baseado no primado classificação, ou seja, da compartimentação
do mundo em classes e subclasses. A partir desta relação existente entre as diversas
classes e subclasses será baseada e fundamentada também a silogística aristotélica, a teoria da
inferência que será o coração da lógica durante mais de 2000 anos história. As inferências
silogísticas são todas baseadas nas relações de inclusão ou exclusão de classes em outras classes,
classes essas representadas no silogismo pelo termo sujeito, termo predicado e termo médio.
O filósofo que melhor apontou os problemas da sintaxe gramatical e foi responsável pela
reformulação dos mecanismos sintáticos da lógica foi Gottlob Frege . De acordo com Frege, a
sintaxe lógica da proposição é baseada nas categorias de conceito e objeto, não sujeito e predicado.
Um conceito, Para Frege, é uma entidade insaturada, que possui um espaço vazio que precisa
ser preenchido para formar uma proposição e adquirir significado. Por exemplo: “__ é irmão
de __“, é um conceito. “João” e “Maria” são os objetos. “João” e “Maria” preenchem o conceito em
nosso exemplo acima, produzindo a proposição “João é irmão de Maria”. Da mesma forma,
num enunciado predicativo, “___ é filósofo” é o conceito; “Sócrates” é o objeto; quando Sócrates
assume o lugar vazio existente no conceito, teremos a proposição com sentido “Sócrates é filó-
sofo”.
Também problemas referentes ao papel dos quantificadores na estrutura formal da proposição
serão resolvidos de forma bastante eficaz pela sintaxe proposicional proposta por Frege.
Enunciados que possuem quantificação múltipla, onde não só o sujeito, mas também o predicado
são quantificados (por exemplo, “todo homem ama alguma mulher”), que eram problemáticos
e recebiam explicações muito insatisfatórias e artificiosas dentro do esquema aristotélico,
passam a ser explicados cabalmente com o novo instrumental fregeano. Com isso, a lógica, que
de acordo com Kant já estava pronta e acabada desde Aristóteles, será fundada novamente por
Frege e se mostrará uma ciência com ainda muito a evoluir.
Filosofia e linguagem no empirismo britânico: Locke e Mill
Supostos históricos
A filosofia moderna foi fortemente marcada pelo idealismo. Vários filósofos modernos,
racionalistas ou empiristas, continentais ou insulares, compartilhavam, em linhas gerais, uma
mesma tese de natureza epistemológica: não temos acesso cognitivo direto às coisas do mundo, mas
conhecemos somente seus representantes, ou seja, as idéias que somos capazes de formar acerca dessas
coisas. Há, dentro do contexto filosófico moderno, uma suposição que dá sustentação à tese idealista; nossa consciência, dadas sua estrutura e natureza, não pode ter as coisas mesmas do
universo físico como objetos cognitivos, uma vez que essas coisas não ‘cabem’ na consciência.
A consciência tem uma estrutura tal e uma natureza tal, que pedras, madeiras, metais, corpos
vivos, etc. não podem ‘entrar’ dentro dela. Embora eu veja um caderno, eu segure um lápis ou
uma borracha, o acesso cognitivo que tenho a esses objetos se dá pela posse de ‘representantes’
ideais desses objetos, ou seja, as idéias dos objetos, estas sim aptas a ‘habitar’ o universo cognitivo
de um sujeito. No mundo físico habitam objetos físicos, no mundo psíquico da consciência
somente pode haver objetos psíquicos, ou seja, idéias.
O chamado empirismo inglês moderno fundamenta-se claramente na tese idealista, mantendo
que os únicos objetos que somos capazes de ‘portar’ em nossas mentes são idéias, e que
essas são obtidas exclusivamente a partir da experiência sensível. É muito famosa a analogia
proposta por Locke que compara nossa mente a uma tabua rasa, a uma folha de papel em
branco na qual as idéias se imprimem na medida em que temos experiências empíricas. Aliás,
o cerne da disputa existente na modernidade entre racionalistas e empiristas diz respeito justamente
á pergunta acerca da natureza e origem de nossas idéias. Os racionalistas defendendo a
existência de idéias inatas (isto é, não adquiridas) e os empiristas mantendo que todas nossas
idéias são obtidas por meio da experiência.
A filosofia moderna de origem britânica será fortemente marcada pelo primado idealista,
e isso irá refletir diretamente nas teorias acerca da linguagem que serão produzidas pelos
filósofos anglo-saxões. Além do apego ao primado idealista, a filosofia inglesa nutriu também
um interesse particular pela linguagem. Já na idade média, o filósofo britânico Guilherme de
Ockham13
e seu nominalismo, apontava de forma sistemática para a importância das reflexões
filosóficas acerca da linguagem e, de certa forma, colocava o problema de se elaborar uma
teoria do significado como elemento capaz de dar sustentação teórica e sistemática para toda
filosofia. Ockham foi, por assim dizer, o inaugurador daquilo que se acostumou chamar de filosofia
britânica. Sua famosa ‘navalha’, que buscava ‘cortar’ das considerações ontológicas todas as
supostas entidades que não fossem coisas individuais, foi a pedra de toque da filosofia britânica posterior, que, em geral, defendia que somente existiam coisas individuais no mundo, negando,
assim, a existência dos universais. Finca-se, com isso, uma das bases da filosofia empirista tipicamente
britânica, uma vez que a experiência somente pode nos dar acesso a coisas individuais
e jamais a entidades gerais
Idealismo, nominalismo, unitarismo ontológico, empirismo e interesse pela linguagem; eis as bases
de sustentação da filosofia inglesa que emergiu na modernidade.
O conceitualismo de Locke
Além das características mencionadas logo acima, também o contratualismo foi uma característica
marcante da filosofia britânica moderna. Tanto Hobbes, quanto Locke, cada qual à sua maneira, defenderão que o processo civilizatório pode se dar por conta de um acordo,
de um pacto, de um contrato estipulado pelos homens, o que também leva necessariamente a
uma valorização sistemática do fenômeno da linguagem no conjunto das atividades humanas,
uma vez que somente por meio da linguagem esses acordos podem ser fixados e estabelecidos.
Tal estado de coisas acabou por impor aos filósofos mencionados a necessidade de se criar uma
teoria formal do significado baseada na mediação de elementos de natureza psíquica para que
possa se dar o processo significativo. À tese que afirma que o significado se dá pela mediação
de entidades psíquicas damos o nome de conceitualismo ou psicologismo semântico.
Embora Thomas Hobbes tenha, antes de Locke, esboçado uma muito interessante teoria
do signo e uma teoria psicológica do significado, o primeiro grande modelo de teoria psicoló-
gica da linguagem que temos na modernidade é o Livro III do Ensaio acerca do entendimento
humano de John Locke. Ali, pela primeira vez na modernidade, temos um livro inteiro dedicado
ao processo de significação lingüística. Este, de acordo com Locke, é determinado pela
mediação realizada pelas idéias no estabelecimento da relação que deve haver entre o signo e
o mundo, entre as palavras e as coisas. Somente de forma indireta e mediata as palavras, em
algum sentido, referem-se às coisas; somente na medida em que supomos que nossas idéias
representam coisas ‘reais’. De forma direta e imediata, no entanto, as palavras são signos de
nossas idéias, refere-se ao universo psíquico e não às coisas mesmas. O argumento lockeano é
bastante plausível: segundo ele, a necessidade que temos de entrar em acordo, de nos entendermos,
leva a necessidade de se criar signos sensíveis capazes de comunicar nossos pensamentos,
nossas idéias. Se fôssemos dotados de alguma faculdade que possibilitasse o acesso
direto e imediato às idéias nas mentes de outros homens, não seria necessária a linguagem.
Como, porém, de acordo com os pressupostos empiristas de Locke, somente podemos conhecer
aquilo que se apresenta diretamente a um de nossos cinco sentidos, e esse não é o caso das
entidades psíquicas que ele chama de idéia, faz-se necessária a utilização de signos sensíveis
para externar essas idéias. Sendo assim, nada mais apropriado do que a utilização dos sons articulados
que somos capazes de emitir como signos (isto é, substitutos) das idéias.
Locke nos diz:
Ainda que o homem tenha uma grande variedade de pensamentos, dos quais, tanto os
outros como ele mesmo devem receber proveito e prazer, todos eles, entretanto, estão no interior
de si mesmo, invisíveis e escondidos dos outros, e não podem se manifestar por si mesmos.
Como o bem estar e a vantagem da sociedade não são realizáveis sem a comunicação de pensamentos,
foi necessário ao homem desvendar certos sinais sensíveis externos, por meio dos
quais estas idéias invisíveis, dos quais seus pensamentos são formados, pudessem ser conhecidas
por outros.
O pensamento semântico de Locke é
um grande modelo e chamamos de abordagem psicológica da
linguagem, a linguagem entendida como instrumento para comunicação de idéias.
Mill e a refutação do conceitualismo
Durante cerca de dois séculos após a publicação do Ensaio de Locke, imperou em parte
da filosofia a tendência a reduzir a lógica e a semântica à psicologia. No entanto, isto trouxe
muitos problemas. Submeter as supostas leis objetivas da razão à contingência das reflexões
psicológicas traz consequências que alguns filósofos não estavam dispostos a assumir. O grande
anti-psicologista que conhecemos é Frege, que dedicou quase toda sua vida intelectual à tarefa
de estabelecer as bases e fundamentos racionais da ciência da lógica e uma teoria do significa
compatível com ela. No entanto, antes do alemão Frege, o inglês Stuart Mill havia já dedicado
esforços no sentido de romper com o idealismo subjetivista no qual a filosofia estava atolada
havia mais de dois séculos, e isso se manifestou de forma contundente em sua teoria do significado.
A semântica também se reduz à pragmática, uma vez que é o uso que fazemos da linguagem (transmitir pensamentos) quem
impõe a necessidade de uma semântica psicológica. Ora, de acordo com essa situação, claro
deve estar que, para refutar a tese conceitualista de que os nomes se referem às idéias, será
necessário refutar a tese que dá suporte e fundamento a esse conceitualismo, ou seja, dado que
a tese semântica de que os nomes significam imediatamente idéias supõe a tese pragmática
de que a linguagem é usada para transmitir pensamentos, somente será possível mexer na primeira
se a segunda também for alterada. Stuart Mill fará justamente isso. Em seu Sistema de
lógica, contra a tese conceitualista,
Stuart Mill nos diz:
Se isto (a tese conceitualista) quisesse dizer simplesmente que a concepção só, e não a coisa
mesma, é recordada e transmitida pelo nome, não haveria nada a se opor. No entanto, parece
razoável seguir o uso comum dizendo que a palavra Sol é o nome do Sol e não de nossa idéia
de Sol. Com efeito: os nomes não estão destinados somente a fazer conceber aos outros aquilo
que concebemos, mas também para informar o que nós cremos.
E, um pouco antes, ao tratar das proposições em geral Mill afirma:
Tudo o que pode ser objeto de crença e não crença deve ser expresso por palavras e assumir a forma
de uma proposição.
Teoria da conotação
Como foi dito a pouco, dentro do esquema conceitualista e psicologista, a relação entre as
palavras e os supostos objetos do mundo se dá pela mediação de elementos de ordem subjetiva,
as idéias. Ora, se este psicologismo semântico deve ser refutado e abandonado, como quer Mill,
fica uma questão em aberto: o que, dentro do novo esquema objetivista e realista, cumprirá
o papel exercido anteriormente pelas entidades psíquicas? Ou seja: se a mediação entre os
signos e as coisas era explicada pelo papel exercido pela idéia, se negamos que a idéia executa
este papel, o que é, então, responsável pela mediação signo/coisa? Se tirarmos a psicologia
de cena, outras categorias devem assumir o papel que era delegado às instâncias subjetivas, e
essas categorias devem ser de ordem semântica se quisermos estabelecer uma teoria realista e
objetiva do significado.
O próprio Stuart Mill, à sua maneira, resolveu esta questão. Fez isso introduzindo categorias
semânticas como responsáveis pela relação de significação existente entre os nomes e as
coisas. Em seu sistema, é a categoria da conotação aquela capaz de estabelecer a relação semântica
primordial.
De acordo com Mill, os nomes não significam propriamente aquilo a que se referem, mas significam determinadas propriedades que conotam. E a posse dessas propriedades
por parte dos objetos do mundo fará com esses sejam denotados pelo nome. Denotação é
a relação semântica que mantém o nome com a coisa que nomeia; mas isso, para Mill, não é
propriamente o significado da palavra. A conotação é a relação semântica que o nome mantém
com as características, propriedades, critérios, conteúdos informativos que a palavra traz consigo
que fazem com que os sujeitos possam identificar no mundo objetos por ela nomeados.
Por exemplo: somos levados a aceitar, pela força do hábito, que a expressão “ser humano” significa
uma infinidade de indivíduos que chamamos seres humanos.
A teoria da conotação estabelece, no nível da unidade do sentido da proposição, uma situa-
ção bastante peculiar.
Frege e Wittgenstein
Sentido e referência
Apesar de não ser muito conhecido no Brasil, Frege foi um dos filósofos mais influentes do
século XX, embora suas principais obras tenham sido escritas ainda no final do século XIX.
Frege tinha por objetivo filosófico principal a fundamentação da aritmética a partir de uma
definição lógica de número natural. Para isso, teve que propor uma teoria acerca de estrutura
sintática da proposição, a partir das categorias de conceito e objeto, em oposição às categorias de
sujeito e predicado propostas pela lógica aristotélica. Isso abriu uma série de novas possibilidades
para a ciência da lógica ao ponto de não ser exagerado dizer que Frege a reinventou. Na
historia da lógica existem dois nomes: Aristóteles e Frege.
Frege esbarrou também em questões de ordem semântica e linguística, e acabou produzindo uma muito interessante
e influente teoria do significado. Claramente influenciado pela teoria milliana da
conotação, Frege criou sua famosa distinção entre sentido e referência. De acordo com a teoria
fregeana, as expressões da linguagem, nomes ou proposições, exprimem sentidos e, por meio
deles, apresentam suas referências.
Para se compreender de forma correta a teoria fregeana do sentido e referência é necessário
ter clara distinção existente entre o sentido da expressão e a representação ou idéia que
o sentido é capaz de produzir nos sujeitos. Para deixar clara esta relação, Frege utiliza uma
metáfora bastante interessante: imaginemos a lua sendo observada por meio de um telescópio.
Temos, neste caso, três ‘luas’ a serem consideradas, a saber, a própria lua, objeto da observação,
a imagem da lua na lente do telescópio e a imagem da lua na retina do observador. Destas
três luas consideradas, apenas uma é propriamente real e existente. No entanto, uma delas, a
imagem na lente, embora não seja propriamente real, é objetiva, isto é, é a mesma para todo e
qualquer observador. A imagem na retina do observador, por sua vez, é inteiramente subjetiva,
pois cada observador terá a sua e será impossível para qualquer observador ter em sua retina a mesma imagem que se formou na retina de outro. Temos, então, três níveis a serem considerados:
o objetivo real (a própria lua), o objetivo não real (a imagem na lente) e o subjetivo (a
imagem retiniana). De acordo com Frege, a relação entre referência, sentido e representação
é análoga à que acabamos de descrever. A referência de uma expressão será sempre algo real e
existente (desde que, é claro, a expressão tenha referência); o sentido da expressão é análogo à
imagem na lente do observador pois, embora não seja o próprio objeto, é a maneira pela qual o
objeto é dado e apresentado ao sujeito; a representação, isto é, a imagem mental que se forma
na mente do sujeito que entende a expressão, é análoga à imagem retiniana, pois é privada e
incomunicável.
O que pode ser dito
Encaradas as coisas sobre o ponto de vista que está sendo apresentado aqui, podemos entender
claramente que o problema semântico referente constituição do sentido é anterior e mais
fundamental do que a pergunta epistemológica pela verdade ou pela possibilidade do conhecimento
da verdade. É elementar o fato de que somente podemos decidir se um enunciado é
verdadeiro ou falso se entendermos o que ele diz, se compreendermos seu sentido. O juízo, ou
seja, o ato subjetivo de tomar algo como verdadeiro, supõe que o sujeito saiba a que está dando
crédito. É necessário saber qual o sentido da proposição, quais são suas condições de verdade.
Saber como o mundo deve se comportar para que a proposição seja verdadeira e como deve se
comportar para ser falsa. Sem isso não há juízo. Sem isso não há verdade nem falsidade.
Wittgenstein foi o autor que melhor conseguiu enxergar o fenômeno das pesudo-proposi-
ções contaminando o saber filosófico. A partir disso, criou uma filosofia da natureza crítica que
tinha por objetivo ser um instrumento de análise da linguagem no sentido de dissolver falsos
problemas filosóficos.
De acordo com Wittgenstein, “o mundo é a totalidade dos fatos e não das coisas”. Isto significa
dizer que devemos representar o que chamamos de mundo pelo conjunto das proposições
verdadeiras que são enunciadas sobre ele e não como simplesmente um amontoado de coisas.
A filosofia wittgensteiniana do Tractatus será um esforço em determinar o que pode e o
que não pode ser dito acerca do mundo e não uma tentativa de determinar o que, de fato, é
verdadeiro e falso no mundo. O falso pode ser dito, assim como o verdadeiro. O que não pode
ser dito é o que não tem sentido. São aquelas pseudo-proposições que, do ponto de vista gramatical,
até parecem ser bem formuladas, mas que não dizem nada de objetivo, nada do qual
podemos determinar as condições de verdade. E o que pode ser dito, então? De acordo com
o Tractatus, proposições factuais acerca do mundo, aquelas cujos valores de verdade podem ser
estabelecidos ou, ao mesmo, cujas condições de verdade sejam conhecidas. Tudo o que pretender
ser dito como verdadeiro ou falso que não seja uma proposição factual será enquadrado na
categoria de contra-senso.
Abre-se com isso, caminho para uma distinção muito importante que Wittgenstein realiza
em seu Tractatus: dizer em oposição a mostrar. O reino do que pode ser dito no discurso
veritativo é algo bastante limitado no universo wittgensteiniano.
O que pode ser dito, segundo a primeira filosofia
de Wittgenstein, pode ser dito claramente. Porém, do não se pode falar, deve-se calar.
Jogos de linguagem
Primeira filosofia de Wittgenstein foi o esforço
de levar às últimas consequências de um determinado modelo de teoria do significado que
imperou na história do pensamento por milênios: o modelo referencial de significado. De acordo
com a tradição que está sendo ainda mantida ali, significar é um processo que tem por objetivo
último e principal ‘apontar’ para uma referência, para algum objeto (físico ou não) do qual o
signo da linguagem seja uma espécie de substituto. Antes das sofisticadas teorias da conotação
de Mill e do sentido e referência de Frege, que foi assumida na íntegra pelo segundo Wittgenstein,
o significado era, por assim dizer, confundido com sua referência: o significado da palavra
“carro” era o próprio carro ou, no modelo conceitualista, a idéia do carro. As sutilezas semânticas
de Frege e Mill mudaram um pouco este quadro: o significado deixou de ser a própria
referência, e passou a ser considerado como o conteúdo informativo que o nome ou sentença
contém e que faz com que a partir dele seja indicada a referência. Mas, de qualquer forma, é
ainda em função de uma referência que o significado se dá, impondo-a, apresentando-a. Neste
sentido, podemos entender o que vem a ser o sem-sentido do Tractatus: enunciados lingüísticos
que não podem ter equivalente no nível real; não pode haver um fato do mundo cujo enunciado
seja, por assim dizer, um substituto.
O filósofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o próprio Wittgenstein
• WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Ludwig Wittgenstein).
• FREGE, G. Os fundamentos da aritmética. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Gottlob Frege)
• FREGE G. Sobre sentido e referência. In: FREGE, G. Lógica e filosofia da linguagem. Cultrix-Edusp, São Paulo, 1978.
• KANT, I. Crítica da razão pura. Fundação Caloute Gulbenkian, Lisboa, 1989.
• LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1991. ( John Locke).
• MILL, J. S. Sistema de lógica dedutiva e indutiva. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. ( John Stuart Mill).
• HOBBES, T: Computation or logic. In: The English works of Thomas Hobbes. [S. l: s. n.], [1996?].
O filósofo que soube da melhor forma refutar e superar as teses do Tractatus foi o próprio Wittgenstein
Considerações Finais
A filosofia que estuda a essência e natureza dos fenômenos linguísticos. Uma das principais características da filosofia da linguagem é a maior diferença entre o ser humano e os outros seres que existem compreençao no mundo. Ela trata, de um ponto de vista filosófico, da natureza do significado linguístico, da referencia, do uso da linguagem, do aprendizado da linguagem, da criatividade dos falantes, da da linguagem, da interpretação, da tradução, de aspectos linguísticos do pensamento e da experiencia. Trata também do estudo da sintaxe, da semântica, da pragmática e da referencia.
referencias
• WITTGENSTEIN, L. Tractatus Logico-Philosophicus. Tradução de L. H. L. Santos, Edusp, São Paulo, 1993. Edição bilingüe alemão-português.• WITTGENSTEIN, L. Investigações filosóficas. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. (Ludwig Wittgenstein).
• FREGE, G. Os fundamentos da aritmética. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1974. (Gottlob Frege)
• FREGE G. Sobre sentido e referência. In: FREGE, G. Lógica e filosofia da linguagem. Cultrix-Edusp, São Paulo, 1978.
• KANT, I. Crítica da razão pura. Fundação Caloute Gulbenkian, Lisboa, 1989.
• LOCKE, J. Ensaio sobre o entendimento humano. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1991. ( John Locke).
• MILL, J. S. Sistema de lógica dedutiva e indutiva. In: Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1979. ( John Stuart Mill).
• HOBBES, T: Computation or logic. In: The English works of Thomas Hobbes. [S. l: s. n.], [1996?].
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